A chegada do Pedro foi um dos melhores presentes que a vida nos ofereceu. Tê-lo ao nosso lado significa enxergar o mundo através de novas perspectivas, valorizar o que realmente importa e revisitar importantes conceitos da natureza humana. Este conjunto de privilegiadas possibilidades faz com que nos tornemos versões mais evoluídas de nós mesmos a cada dia.
Para a Nina e o Lipe, este cenário foi apresentado numa fase ainda muito inicial, e portanto, eles aproveitarão os benefícios por muito mais tempo em suas vidas do que nós (Pais) nas nossas. E isto quase sempre é muito bom. Quase.
A carga de cuidados envolvida na fase de estimulação de um bebê com deficiência intelectual muda a rotina de qualquer família – seja ela de 1 ou 3 filhos. O acompanhamento médico-terapêutico, a constante aparição de novas questões e as diferentes fases dos temas mais antigos, requer um grau de dedicação que envolve todos os que estão próximos, independentemente de suas idades. Por mais cuidadosos que sejamos neste processo, especialmente quando o cenário contempla outras crianças pequenas, é bem provável que algumas fases de seus desenvolvimentos estejam sendo adiantadas. E isto normalmente não é bom.
Em casa, esta percepção se dá mais claramente em relação à Nina: uma irmã extremamente carinhosa que estabeleceu com o caçula uma relação maternal. Ainda que nossa Princesa faça tudo com alegria e espontaneidade, involuntariamente ela percebe a carga de responsabilidade que passou a possuir. Se somarmos isto à ansiedade que lhe é característica, não é bobagem pensar num amadurecimento precoce em algumas áreas – e que portanto, requer especial atenção.
Talvez o maior desafio nesta jornada – juntamente com a assimilação da notícia da síndrome de Down – seja encontrar o equilíbrio nas situações cotidianas: a dose certa da estimulação, a distribuição de atenção entre os filhos, a manutenção da relação do casal, o meio-termo entre benefícios e desgastes que toda esta situação oferece, dentre outras.
Não é simples… mas a beleza da vida está na superação dos desafios que ela nos apresenta. Talvez seja por isto que temos enxergado as nossas de formas cada vez mais belas.